JOSÉ PINTO PEIXOTO VISTO POR CIENTISTAS DOS EUA QUE COM ELE TRABALHARAM
Por ocasião da homenagem recentemente efectuada ao nosso patrono pela Casa de Cultura José Pinto Peixoto, na Miuzela, sua terra natal, no dia 16 de Dezembro último, foi este o testemunho de Richard D Rosen, em representação dos antigos colegas e amigos americanos que o conheceram e com ele trabalharam:
“Honrada Família e amigos do Prof Peixoto;
Queridos convidados:
É uma honra e um privilégio para nós, amigos americanos, estar aqui, hoje, convosco para participar neste evento. Queremos agradecer esta visita, bem como a sessão maravilhosa em que ontem participámos no Instituto Português do Mar e da Atmosfera. Estamos muito satisfeitos por retornar à Miuzela para ver esta linda Casa de Cultura, pela primeira vez. Estivemos aqui em novembro de 1998, para participar numa homenagem ao Prof Peixoto e lembramos, ainda, a forma calorosa como fomos recebidos pela sua família.
Seja-me permitido, agora, apresentar o resto do nosso grupo. Primeiro, porém, trago saudações do Dr. Norman Gaut, que planeava estar aqui também, mas, infelizmente, teve que ficar para ajudar a sua família, atingida pelos recentes incêndios florestais na Califórnia.
O Dr. Gaut fundou a empresa onde o Prof Peixoto passou verões, na década de 1970, até ao início dos anos 80, para trabalhar nas suas pesquisas. Devo ao Dr. Gaut o meu primeiro emprego, logo a seguir à minha graduação no Massachusetts Institute of Technology (MIT), em 1974. Também foi no MIT que David Salstein recebeu o seu doutoramento (Ph.d.) Ambos trabalhámos com o Prof Peixoto durante as suas visitas aos Estados Unidos, ao longo da década de 1990. O Dr. Salstein e a sua esposa, Dra. Janie Pollack, vivem em Newton, Massachusetts. A minha esposa Michele e eu vivemos perto de Bedford.
Pinto Peixoto deixou-nos há 21 anos, mas a sua memória e o seu trabalho estão tão presentes, como se ainda vivesse entre nós. O seu trabalho pioneiro sobre como os ventos movem o vapor da água na atmosfera, à volta do planeta, lançou as bases para a pesquisa que hoje se faz: como é que o ciclo da água na terra é afetado pelas alterações climáticas. Inundações e secas acontecem por causa de onde chove ou onde falha a chuva. O Prof Peixoto estudou o assunto e forneceu-nos a base para a compreensão do padrão do ciclo da água - incluindo inundações e secas - e de como ele iria mudar futuramente.
Facto importante foi o de o Prof Peixoto e os seus colegas do MIT estabeleceram o estudo do clima como parte fundamental da Física. O Prof Peixoto foi um membro importante do projeto de circulação geral, sob a direção de Victor Starr, no MIT. O projeto constou de observações atmosféricas à volta do mundo a fim de se fazerem cálculos sobre o clima da atmosfera e suas variações. O livro que o Prof Peixoto escreveu com o seu grande amigo, Dr. Abraham Oort, intitulado Física do Clima, ilustra muito bem como podemos utilizar essas observações para ver como a atmosfera obedece às leis da física e entender o seu comportamento. O Dr. Oort teria muito gosto em estar aqui connosco, mas, infelizmente, não poude fazer a viagem.
As contribuições do Prof Peixoto para a ciência ainda resistem hoje em dia e as suas capacidades de liderança deixaram marcas indeléveis em universidades e instituições científicas portuguesas.
Peixoto também foi um membro importante da comunidade científica internacional e falou em inúmeras reuniões e conferências por todo o mundo. É totalmente apropriado, portanto, que fique imortalizado através da magnífica estátua que vimos ontem, em Lisboa. Devo confessar, no entanto, que, ao vermos aquela estátua, ficámos um pouco surpreendidos, pois que, na América, habituámo-nos a olhar para José P Peixoto não apenas como o estimado Prof Peixoto, mas, também, como o nosso querido amigo José. E José era despretensioso, jovial, dinâmico e de uma alegria contagiante. Era um prazer estar com ele e estávamos sempre à espera das suas visitas aos EUA.
Uma noite divertida para mim e para a minha esposa era quando, todos os verões, íamos jantar com José ao restaurante Hilltop Steak House. José adorava um bife ocasional e nós gostávamos de partilhar uma refeição animada, sempre a rir. Quando vinha a sobremesa, José encomendava, invariavelmente, uma dose extra de cheesecake para levar à sua idosa senhoria, Sra Burroughs, no apartamento onde sempre ficava, em Cambridge. Outro jantar obrigatório era no restaurante No Name, situado na orla marítima de Boston, onde José se hospedava e onde travou amizade com o dono, imigrante grego, que fazia questão de mandar sempre pratos extra para a nossa mesa. David lembra-se de que os seus filhos, ainda crianças, adoravam a visita de José, que aproveitavam para, em sua companhia e sentados no sofá, verem os seus filmes favoritos.
O Dr. Gaut conserva a sua própria lembrança especial de José: "Em muitas décadas da minha vida académica e empresarial, nunca conheci uma pessoa mais agradável para chamar amigo do que ao Prof. Peixoto. Estava sempre alegre, prestável e simpático para aqueles que com ele trabalhavam. Foi um investigador consumado e, ao mesmo tempo, um ser humano maravilhoso. Estou tão contente que a sua memória não se esteja desvanecendo no seu amado Portugal! Estamos aqui, hoje, para dizer que também nunca esqueceremos o Prof. Peixoto."
Para terminar, lembro que José sentia imenso orgulho da sua origem portuguesa. Contou-nos muitas tradições portuguesas bonitas, especialmente da sua região. Adorava música, arte e história. Esta Casa de Cultura é, portanto, um maravilhoso tributo ao homem que conhecemos. Em nome dos Doutores Salstein, Gaut, Oort, no meu e no das nossas esposas, tenho, pois, muito prazer em anunciar uma doação de 1000 Euros para apoiar as suas actividades e desejar os nossos melhores votos para o futuro.
Obrigado.”
Richard D Rosen, lendo o seu texto de homenagem a Pinto Peixoto
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Richard D. Rosen doutorou-se pelo MIT em 1974. Entre outros cargos, desempenhou os de presidente da Sociedade Meteorológica dos Estados Unidos, vice-presidente e cientista-chefe da Agência de Pesquisa da Atmosfera e do Meio-Ambiente (AER,Inc), tendo desempenhado, também, funções de relevo na Agência Americana dos Oceanos e da Atmosfera (NOAA). Foi um dos fundadores do Journal of Climate. Ao longo da sua vida académica e de investigação, escreveu uma dezena de artigos em co-autoria com José Pinto Peixoto