PONTIÁRIA
Hino à Ponte de Sequeiros
Seis da manhã,
Vá de levantar,
Está na hora de acordar.
O dia é longo, quem diria!
Mas de manhã
É que se começa o dia.
A azáfama principia.
Prepara-se o farnel,
Pois é dia de patuscada.
Vai a família e os vizinhos,
Avós, pais, toda a ninhada,
A pé, alguns descalços, pelos caminhos,
A burrita carregando alguns tarecos,
Nos alforges colocados a granel.
Vão batatas, vinagre, azeite e alho,
A angoreta do vinho bem fresquinho do tonel.
- Não te esqueças da caldeira,
Que as batatas cozidas ao relento
Parecem dar outro sustento.
E que sabor! Deus meu!
Com uns peixinhos na frigideira!
A saliva na boca se acrescenta
Só de pensar em tal ementa.
Ruelas estreitas,
Noctívagos tropeções,
Aos trambolhões,
Cansada Calçada,
Barroco Pendão,
Verde Valvesseiro,
Eis o Cabesteirinha
E seus pinhais.
Por fim, Quinta do Pêro,
Faldas da Vancemelha.
Lembrando seus ais,
A loira Maria Guedelha.
- Dá-me do teu oiro, as linhas, o dedal,
Quero fazer meu enxoval!
Pensa a moça namoradeira
Evocando as velhas lendas
Ouvidas no longo serão
Antes, das almas, as encomendas,
À luz do bruxuleante morrão.
São contos, histórias, lendas de infância,
Tocas, casas encantadas,
Cavernas do fim do mundo,
Caminhos, veredas e carreiros!
Eis-nos chegados à Ponte Sequeiros.
É noite. A Lua Cheia
Arredonda-se, grande, pelo Céu!
Os teus três arcos, em meias- luas,
Reflectindo-se nas águas puras,
Fazem lembrar outros planetas,
Um outro Sistema Solar,
Com três astros a par.
Quais outros três Magos-Reis,
Também ela nos conduz
À procura duma nova luz.
Olhando cá do alto,
Do ponto mais altaneiro,
Qual Galego da história
Que, em meninos, nos contavam,
Esfomeado e prazenteiro,
À procura dum novo queijo,
Nas águas límpidas eu vejo
Outra lua, também redonda, com tal jeito,
Com a sombra do pastor,
As silvas carregando com suor.
O queijo da lenda me parece
Repousar lá no fundo do seu leito.
“Vamos a ello, que tengo fame”.
E um mergulho no rio dá.
Fugiu o queijo! Qual mistério,
Também o meu pastor se esvaiu
Quando, grande nuvem, a lua, engoliu!
Fazem-se os arrumos,
Prepara-se a fogueira..
Nas redes, nos tralhos, no tosão,
Já saltam os peixes, em grande confusão.
As lebres, coelhos e perdizes,
Na cintura do caçador, riem, felizes.
Já a fogueira deita o seu calor.
Todos trabalham em redor.
Vá de estripar e esfolar,
A salada pelar,
Está prestes a hora do jantar.
O Sol já vai alto,
Já as moças, em alegria,
Cantam suas cantigas, à porfia.
Haja festa, realejo, viva a folia.
À sombra dos teus arcos,
Os novos jogam o sete e meio,
A bisca de nove, lambida, a sueca.
Os velhos, já jarretas, dormem a sua soneca
Enquanto os bebés, as avós ao lado,
Na paz dos anjos, dormem um sono descansado.
E a água
Passava,
Corria,
Fugia,
Murmurava,
Subia,
Descia
Gorgolhava,
Gorgolejava,
Enfunava,
Rodopiava,
Zumbia
Afunilava,
Trepava,
Afundava,
Galopava,
Espumava,
Gemia,
Revolteava,
Ressonava,
Revolvia,
Amansava,
Sossegava,
Espraiava,
Descansava,
Jazia,
Dormia…
Ó meu belo Rio Côa,
Que assim corres aos trambolhões,
Que assim corres à toa!
Agarras as pedras toscas
E, furibundo, aos supetões,
De cascata em cascata,
Assim as vais boleando,
Em gogas as transformando.
Remoinhos,
Redemoinhos,
Ervas,
Folhas,
Raízes,
Ramos,
Paus e troncos,
Na fúria,
Tudo arrancais,
Tudo levais.
Amansadas as águas,
Quais objectos inúteis mas imortais,
Nas margens baixas e areais
Os depositais.
Popularmente conhecida Pont’Isqueiros,
De Sequeiros é o teu nome de registo.
A pés-enxutos permites a passagem
A quem demanda a outra margem.
“Pedes siccos”, depois, “siccários”,
Que, por caminhos sendeiros,
Chegou hoje ao nome de Sequeiros.
Campos, veigas cultivadas,
Cheios do azul do linho a bulir.
Molhadas, paveias a secar,
Feixes nas águas e no húmido areal a curtir.
Nos teus alicerces, qual outra eira ou espigueiro,
De novo o linho a secar - campos de sequeiro.
De “sicárius” vá para bem longe a memória,
Que não quero que seja esta a tua história.
“Sicárius”, portador de “sica”, arma bem afiada,
Símbolo e objecto de gente mal afamada.
De gente cruel, facínora, assassinos e homicidas,
A tua “graça” quero bem afastada,
Pois os teus são gente honesta,
Trabalhadora, serviçal, franca e honrada.
Só, se na fuga, com pés ligeiros,
Acossados pelas gentes, passavam a Ponte de Sequeiros.
Se, depois, desta ignóbil gente,
Descendentes seus, homens agora nobres e honrados
Que por ti fizeram trabalhos esforçados
O apelido para si tomaram de Sequeira,
Honremos-te, também nós desta maneira.
Chamemos-te, pois, em sua honra,
Ponte de Sequeiros, descendentes de Sequeira.
Como a rocha é dura,
Não permite a escritura.
Mas tu és a testemunha,
Rude, agreste e fria,
De povos de vária etnia.
Dizem-te romana,
E disso tens a fama.
Mas o engenho,
A força, é humana,
E, se calhar, da tribo Lusitana.
E aquilo que a água, o rio, dividiu,
Foi o engenho humano que o uniu.
Seja Grego, Troiano, Cartaginês ou Romano
Ibero, Celta, Árabe ou Lusitano,
Fosse quem fosse o sonhador,
Atesta, da humanidade, o valor.
Entre duros, rijos, graníticos penhascos,
A ponte assim se ergueu,
A passagem a todos deu.
És símbolo doutras viagens e passagens.
O sonho do homem é constante!
Sonha com o mundo tão perto e tão distante,
Procura sempre os novos astros!
Rasgou, abriu os seus véus,
Passou, pulou, ganhou asas,
Ligou a terra e os céus.
És o sonho que não se alcança,
És a “bola colorida entre as mãos duma criança”.
As legiões por aqui passaram.
Consta que assim te edificaram.
E, como acto de vassalagem,
Permitiste-lhes a passagem.
Césares, Galbas, Viriatos
E Sertórios, Cipiões e Africanos
Os Visigodos, Suevos, Vândalos e Alanos,
Também os Mouros, Árabes e Muçulmanos,
Aqui viram passar os anos.
Viste nas suas armaduras
Alegrias, tristezas e amarguras!
Nas suas diatribes,
Tiveste, nas suas guérreas lides
Afonsos, Sanchos e Henriques.
Briosos cavaleiros,
Com escudos e cotas de malha,
Lanceiros,
Seteiros,
Gente a pé,
De espada e gládio,
Ou armados de machados,
Forquilhas,
Simples chuços ou chuças,
Em combates cruéis,
Trágicas batalhas,
Constantes escaramuças,
Lutavam pelas suas livres passagens
Entre as tuas duas margens.
Para teu gozo e gáudio,
Ficaste feliz
Com D. Dinis.
Até agora, aduana e raia de Portugal,
Em Alcanices,
Os sete castelos,
As tuas duas margens,
Tornaram-se território Nacional
Das margens e do leito deste rio Côa
Que tenho como humilde tugúreo
Sumiram-se os sons, das águas o murmúreo.
Doutros sons, vindos de mais longe, o vale ecoa.
Alegres, juvenis vozes, amorosos gritinhos
Vêm, agora, do lado de nascente.
Nobres, fidalgas vestes, criados de libré,
Muita gente de coche, a cavalo, outros a pé,
Nobres damas, aias, moças belas,
Grande comitiva de donzelas.
Oh! Que comitiva tamanha
E com ar tão folgazão
Vem dos lados de Leão,
Agora unido a Castela
E futuro Reino de Espanha.
É uma comitiva de donzelas
Que com grande garbo e zelo
Se dirige para os Montes do Jarmelo,
Ali mesmo junto à Guarda,
Onde D. Pedro a aguarda.
É a prometida nobre Constança
E suas aias de companhia
Disputando entre si
Qual, dentre elas,
Seria a moça mais bela.
Estranho, mas engraçado !
Também há ruído,
Um sonoro zumbido,
Ainda que mais espaçado,
Vindo de poente,
Ali do outro lado.
- Vamos, vamos sem tardança !
Aí vem a comitiva de D.a Constança.
Diz e ordena, ansiosa.
Um pouco gaga,
Morosa,
Algo titubeante,
A voz de D. Pedro,
O Infante.
Chegou, há pouco, dos Altos do Jarmelo
Onde a sua comitiva pernoitou,
Com leveza,
Em casa de Lopo Coelho,
Mordomo e amigo
De Sua Alteza.
Frente a frente, as duas comitivas.
Um rio as divide,
A ponte as une,
Símbolos do resto das suas vidas.
Oh! Trágico e feliz ajuntamento
Para tão desejado e festejado casamento!
Ao ver tanta beldade
O coração de Pedro vacila, se reparte.
Olvida a anterior lealdade
E dos puros e anteriores amores,
Há tanto tempo prometidos
Em tratados e contratos,
Tão pueris, tão castos,
Bem depressa deles se esquece.
O antigo e contratado amor se esvanece,
Por outros o seu coração estremece
E por um novo se enaltece.
É uma das aias querida de Constança.
São por Inês de Castro esses tremores,
São os seus mais profundos e ternos amores.
Oh! Amores puros, juvenis, sem cadeias,
Libertos dos anteriores contratos,
Das antigas e anteriores peias:
De D.a Branca
– tinha apenas oito anos,
Era ainda uma criança;
Aos dezasseis, a D.a Constança.
As Guerras com Castela o fizeram esperar
Quatro anos por este momento salutar.
Vejam agora do mundo e dos amores as andanças
E contradanças:
Do noivado eram lembranças,
Ao realizar agora a esperança
De tanto tardar por Constança,
Qual aparição
Turva-lhe o pensamento,
A visão:
Oh! Que “estremada graça”
“gentileza”, e
“disposição”
Que “colo de Garça”,
“rara formosura”
“milagre da natureza”
Que beleza
que todos os olhares trespassa.
O corpo, os braços, ao leito conjugal se ajeitam.
O coração, os olhares, os amores, a Inês se afeitam
O pai e a política
À morte Inês condena.
O que sabe de amores
Quem tal ordena ?
Às ordens do pai, viúvo,
Protesta contratos de paz.
Luta íntima, cruel,
Lhe vai minando o fel.
A morte o grande amor não desfaz
Aos algozes cruéis de Inês
Cruel vingança prometeu.
Com o primo Pedro de Castela fez,
Para poder vingar a traição,
Pela primeira vez,
O primeiro tratado de extradição.
A Álvaro Gonçalves e Pedro Coelho
Cruel morte deu.
A Diogo Pacheco,
Tão íntimo seu,
Oh!... grande traição!
Agora foragido,
Já que não o atinge em pessoa,
Manda arrasar o seu Jarmelo querido,
A aldeia do seu coração.
Pelos mundos apregoa, bem asinha,
Por casamento secreto celebrado em Bragança,
Para que em Portugal não haja olvidança,
Para que das gentes haja sempre lembrança,
Ordens de D. Pedro Primeiro,
O Justiceiro,:
Inês, depois de morta, és rainha.
Política,
Ambição,
Poder
Prometidos esponsais,
Que mais desejais?
Novas ambições,
Outras contradições.
Casamentos,
Amores à força contraídos,
Contratos falidos
Filhos mal nascidos
Divórcios prometidos
Vidas desfeitas
Vidas contrafeitas
Vidas de horrores
Trágicos amores
Trágicas vidas.
Vejam agora qual é a sina
A que a sorte nos destina
Nas encruzilhadas da vida:
Uma Branca enlouquecida,
Uma Constança que gera vida:
Um lustroso
Fernando, o Formoso,
Mas sem formas de vida,
Uma formosíssima Maria
Amantíssima,
Com um casamento infeliz;
Uma Inês com três infantes,
Cheios de vigor
Muito elegantes,
Cantando hinos ao Criador
A quem é retirado o Amor;
Uma Teresa Lourenço,
Quase desconhecida,
Mãe da dinastia de Avis.
Eu sou a ponte, a passagem,
Solo e testemunha desta viagem,
A origem,
A cabeça,
O tronco,
O ponto de encontro
Também eu sou mensagem.
Sabem qual é a minha dita
Ou também minha desdita,
Minha tormenta.
É que desde princípios de Agosto
De 1340
Que estas minhas duras e frias pedras
São testemunhas das lágrimas de alegria
Dos amores juvenis
Que alimentam o rio que por mim passa
Nas alvoradas primaveris
O choro e as lágrimas dos trágicos amores,
Os seus ais,
Os Invernos dos furores,
Dos vendavais
Poetas, trovadores e prosadores
Eternizaram estes mesmos amores
Na Literatura.
Outras pedras, na sua alvura,
Mostram a quem lá passa,
Destes amores a candura,
No Mosteiro de Alcobaça.
Para preservar o nosso querido torrão,
Em luta com Castela e Leão
Por ti passaram as tropas
Do filho de D. Pedro,
Mestre de Avis, agora rei D. João.
Viste, talvez, também os Filipes.
E, porque longo foi este parto,
Também por ti passaram
As forças de D. João Quarto.
- Mas que gente tão ordenada!
Que movimento tão fenomenal
Tantos carros, coches e carretas,
Tão pesados, por mim passais.
Donde vindes? Quem sois vós, afinal?
O que vos deu na veneta?
- Ah! Oui, nous sommes des français,
Armée de Massena e Loison, o Maneta,
Invadindo Portugal!
- Mas que gente tão apressada,
Rota, estropiada, faminta, esfarrapada!
Para onde assim vos dirigis,
Neste movimento não habitual?
- Oh! Non, merde, plus jamais
Nous sommes los franceses
Acossados, fugitivos, perseguidos
Pelos garbosos, fortes e valentes portugueses,
Fugindo de Portugal!
- Que jangada, que gaiola é esta
Que a jusante estais montando,
Do correcto leito as águas desviando,
Canalizadas, assim, por um caneiro?
Que barulho é este tão rotineiro
Que mexe com as minhas entranhas?
- São as mós de pedra moendo
Grãos de centeio, vindo do celeiro,
Na moinhela do ti Zé Afonso, moleiro.
Já um século foi passado, a contento,
Desde o último grande tormento.
- Que carros, que ferraduras,
Que férreos rastos em mim roçam
E já tão gastos?
Quem assim me mata a fome
Pensando que de humano algo tenho,
De batatas, centeio e feijão me alimentando?
- Vimos da Bismula, Nave, Aldeia Velha e outras tais,
Lageosa, Alfaiates, Soito e Quadrazais.
Os buracos, os solavancos e a áspera calçada,
Os já coçados sacos arrombaram
E assim também a ti te alimentaram.
São carradas e carretas pr’ó comboio,
Fruto das terras raianas do Sabugal,
P’ra matar a fome às gentes da capital.
-Que objecto tão estranho vai entre varais
Assim puxado por tão possantes animais?
De madeira é feito mas não são taipais,
Rodeado de férreos arcos, poisado entre malhais!
Quem assim me mata a sede?
Que licor delicioso! Que bebida vem daquela aduela!
Que manjar de deuses! Que gosto! Que delícia!
Quem tem para mim tanta carícia?
Quem deste pesado lastro me arranca
E assim aos céus me alevanta?
Ah! Já sei. Só pode ser o bom vinho da Miuzela!
Que estranha porta é esta que em ti puseram!
O que é que guardas ou que impedes?
De romano arco arqueada, fronteira não fazias,
Pois a romano povo livre trânsito tu darias.
Foste fronteira entre portugueses e castelhanos
Quando de Alcanizes Tratado não conhecias?
Ou foste, afinal, porta aduaneira, portagem
Ao traficante, ao almocreve, ao comerciante
Que queria passar à outra margem,
Em trabalho de negociante?
- Quem por mim assim passa tão veloz
Que dos cascos mal sinto as ferraduras?
Que cavalo alado, esbelto, forte, altaneiro,
Cavalgado por homem de tão feroz catadura?
Voa sobre os meus arcos, mal dando conta do portal
Não deixando quase rasto, qualquer pista!
- É o velho Zé Moreno, quadrazenho, azeiteiro, contrabandista,
Fugindo à malfadada Guarda Fiscal.
Em dias de forte temporal
De grandes cheias, de grande caudal,
Como, em vez de água, de fogo se tratasse,
Para evitar grande desastre
Os amigos a ti acorriam,
Os arbóreos troncos orientando,
Para a linha da corrente os conduziam,
Salvando-te assim do teu derrube.
Passada a tormenta, as águas acalmando,
Lá estava o velho açude.
O piso pelas águas escalavrado,
Com saibrosa terra era acamado
E sem qualquer outra mazela
Pelos fortes braços das gentes da Miuzela.
Aos teus domínios, em festanças, acorriam
As famílias pobres, ricas ou abastadas.
Coelho à caçador, caldeiradas, fritadas e sardinhadas,
À tua sombra, com delícia, se comiam.
Uma vez na vida, dos mancebos
Os nus e viris corpos a ti e às águas se mostravam,
Pois que ao doutor, na inspecção, a pele bem luzidia
Tinham também que mostrar, no outro dia.
Os corpos bem lavados, uma pinga boa,
Bela patuscada, só nas águas do rio Côa.
Dos tempos passados reza a tua história.
Dos momentos aqui gozados, a glória!
De trabalhadores, gentes de guerra, nobres comitivas,
De foragidos à lei, à justiça, homicidas,
De comerciantes, carreteiros e almocreves
E de outros com cargas talvez mais leves,
Foste a passagem, o caminho, a via,
O lugar de prazer, de festa, de romaria.
A ti as romanas calçadas se dirigiam.
A estas, quase desaparecidas,
Ínvios caminhos sucediam.
Em sítio ermo, por contraste,
Quase só e isolada ficaste,
Agreste, nua, despida,
Qual ermida, lá do alto ao leito do rio descida.
Novas máquinas, picadas novas terraplanaram.
Na abandonada margem te plantaram
Desabrasados grelhadores, abandonadas mesas de fartança
Recordando momentos de festança,
Lembrando os velhos tempos de criança.
Para quando uma digna via
Para tão digna ponte festejar tal dia?!
Ponte e fonte de sonhos, lendas e mistérios
A mais bonita e mais catita,
A mais bela e mais esbelta,
A mais elegante e mais possante,
A mais garbosa e mais formosa
De qualquer dos hemisférios!
Ponte e fonte de encantos, delícias e alegrias!
Tudo isto emerge,
Tudo isto se ergue
Das tuas belas cantarias.
E a água
Passava,
Corria,
Fugia,
Murmurava,
Subia,
Descia,
Gorgulhava,
Gorgolejava,
Enfunava,
Rodopiava,
Zumbia,
Afunilava,
Trepava,
Afundava,
Galopava,
Espumava,
Gemia,
Revolteava,
Ressonava,
Revolvia,
Amansava,
Sossegava,
Espraiava,
Descansava,
Jazia,
Dormia...
Victor Morais Ladeiro
(Amadora, 28 de Junho de 2006; revisto e aumentado a 10 de Dezembro de 2007)